Completou-se, nesse 4/12, um ano da tragédia que se abateu sobre a família Roseno, cuja casa, na localidade de Parada Paulista, em Urucânia, foi levada pela cheia de um ribeirão em meio a um forte temporal que afetou a nossa região. Ronaldo Rozeno, 41 anos, saiu às 5h para trabalhar na Usina Jatiboca, e pouco depois a correnteza levou a casa e arrastou sua esposa, Érica Juventino Pires Rozeno, 31, a qual se agarrou em galhos de árvores e, nestas condições, foi encontrada, pela manhã, por vizinhos que iniciaram as buscas da família.
O corpo da filha de Érica e Ronaldo, Maria Fernanda Juventino Pires Rozeno, 13, foi encontrado pelos bombeiros e sepultada em 6/12. Dois dias depois foi localizado o corpo de Eva de Jesus Juventino, 67, mãe de Érica. Foi longa a procura pelo filho Vinícius Juventino Pires Rozeno, 7 anos. Só em 19/1/2018, já na confluência do ribeirão com o rio Casca, pescadores encontraram um crânio infantil. Em 4/2, houve localização de mais três ossos, dentes de leite e roupa que o menino usava no dia da tragédia.
Até este mês (dez/2018), Ronaldo e Érica ainda não conseguiram, no Instituto de Medicina Legal da Polícia Civil, em Belo Horizonte, a confirmação de que os ossos são de Vinícius. “Meu presente de Natal seria a identificação de meu filho”, diz ela, que respondeu estas perguntas da FOLHA.
FOLHA – Como a catástrofe afetou a sua vida?
Érica – Foi o pior dia da minha vida. Revirou tudo “de ponta cabeça”, pois, em questão de segundos, fiquei sem aqueles que eu tinha de mais valiosos. No começo, não tomei remédio [para superar o trauma] nem busquei ajuda psicológica. Mais alguns meses, tive necessidade de apoio psicológico para aceitar a realidade. Eu e Ronaldo nos divorciamos em fevereiro. Hoje eu moro em Santo Antônio do Grama. Eu me viro com as contas de casa e sinto mais a ausência dos filhos e de minha mãe. Quando entro numa loja de roupa e de brinquedo, é difícil não reparar nas coisas de crianças. Quem me conhece sabe que sou alegre e brincalhona e, por trás do meu sorriso, existe tristeza constante. Meu ex-marido segue trabalhando na Usina Jatiboca, cortando cana mesmo tendo carteira de motorista. Morando na casa de uma irmã, lá mesmo, na Parada Paulista. Sei que pra ele também nunca foi fácil a superação.
FOLHA – Você encontrou forças para continuar no Curso Técnico de Administração na EE Polivalente , em Ponte Nova….
Érica – Tive todos os motivos para desistir. Mas consegui estudar, e minha formatura (neste 19/12) eu a dedico aos meus filhos e à minha mãe. No ano passado, mostrei para eles uma beca de formanda, e o Vini (apelido de Vinícius) disse que eu parecia com um pinguim vestido. Ainda não sei de onde tiro forças pra seguir em frente. Acho que é porque sinto meus filhos e minha mãe comigo. Ainda tento reconstruir a vida, e é difícil quando só metade da gente ainda está de pé. Mas eu vou conseguir.
FOLHA – Quais são os seus planos para este segundo Natal sem seus filhos e a sua mãe?
Érica – O primeiro Natal, para ser franca, foi um dia frio, sem alegria, sem motivo para levantar da cama. A comida não teve gosto. Para este ano, não fiz planos. Deixo tudo acontecer no seu tempo, pois o Natal ainda não tem graça, assim como não teve alegria no Ano-Novo, nos Dias das Mães e das Crianças, nas datas de aniversário da minha mãe e dos meus filhos. Ainda choro, mas sempre sabendo que vou levantar e seguir em frente.
FOLHA – Por que não houve até agora a identificação formal de seu filho?
Érica – O crânio eu não vi, mas os ossos eu vi, e estes foram os piores momentos pra mim. A Polícia levou tudo para exame – depois de recolher material genético nosso [dela e de Ronaldo] – no Instituto de Medicina Legal, em Belo Horizonte. Isto foi em janeiro deste ano. Cinco meses depois, eu soube que trouxeram os ossos de volta, mas sem resultado. Um policial civil me disse que ia ver o que houve e me informar. Mas ninguém entrou em contato. Fui então à Delegacia de Ponte Nova, e lá não tinha nada. Disseram pra eu procurar na Delegacia de Jequeri, e, lá em Jequeri, me falaram, que os ossos foram levados, de volta, para Beagá. Um policial disse que houve um erro [ela não sabe qual] no requerimento do exame e que, dois meses depois, tudo estaria resolvido. Eu ligo de 15 em 15 dias e, quando posso, vou lá pessoalmente. Vou continuar lutando para ter a resposta, porque tenho o direito de enterrar o meu filho. Faço um apelo às autoridades para que tenham a humanidade de resolver este caso. Já estou com advogado para transferir a ossada de minha filha do Cemitério de Urucânia para o de Rio Casca, onde foi sepultada a minha mãe. Só vou me tranquilizar quando tiver certeza de que meu filho ali estará também.